Herbalismo ou Fitoterapia?

(tempo de leitura: 7 min)

A fitoterapia é a abordagem medicinal de cura através das plantas. A medicina herbal, a herbologia, que trata da aplicação de medicamentos fitoterápicos para uma ação específica de tratamento de doenças ou melhoria de funções do corpo. No Brasil, sua prescrição é oficialmente permitida somente a profissionais de saúde, como médicos, farmacêuticos, nutricionistas, com especialização em fitoterapia.

Embora o termo seja aplicado a sistemas tradicionais de cura, como as medicinas indígenas, o Ayurveda ou a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), no atual mundo ocidentalizado a fitoterapia é cada vez mais reduzida à ciência terapêutica da química das ervas, o que curiosamente foi a base da medicina moderna, e ainda é em grande parte.

Mas o Herbalismo é diferente de fitoterapia. Ainda que em princípio, em todas as culturas humanas, estivessem tão atrelados que poderiam ser de fato a mesma coisa.

O que acontece então?

Quando na modernidade da vida urbano-industrial as pessoas voltam a procurar respostas na origem, na natureza, no ancestral, nas plantas, surge o espaço para o idealismo da comprovação científica, mascarado de segurança. E seria mesmo ideal se a ciência pudesse dar conta de todas as respostas. Melhor seria que existisse o diálogo sincero entre a ciência moderna e as formas tradicionais de saberes. Que ideal seria um mundo onde a cooperação e a visão holística fossem pilares do desenvolvimento da ciência. ‘

O método científico possui uma alta capacidade de acumular resultados analisáveis, de sistematizar o acúmulo de conhecimento, de autossuperação, o que permite fazer perguntas cada vez mais profundas. Um incrível e eficiente método que é ao mesmo tempo o próprio fundamento e o modus do saber científico. Mas que de fato não consegue ser aplicado nem aplicável à todas as áreas do saber e formas de produção de conhecimento. Há ciências e ciências, afinal. Umas mais reconhecidas, outras menos.

A ciência médica-bioquímica-farmacêutica, por exemplo, é alvo de grandes investimentos e tem dado conta de um desenvolvimento absurdo, gigante, inimaginável há poucas décadas. Entretanto, essa ciência médica moderna está completamente envolvida em um processo coevolutivo com a indústria químico-farmacêutica, a manifestação capitalista desse desenvolvimento. De modo tão interdependente que quase não se consegue mais distinguir uma da outra.

A fitoterapia do mundo moderno quer ser ciência, e até aí tudo bem. Uma abordagem herbal para a clínica médica é urgente como forma de contrapor a supremacia dos sintéticos. Mas a realidade é que ela acaba se inserindo num campo da ciência há muito dominado pelas forças capitalistas do desenvolvimento industrial de fármacos, monopolizado por gigantes corporações privadas. E assim tem jogado o perigoso jogo da indústria da transformação em cápsulas, e do egocentrismo do cientificamente provado e aprovado. Uma maneira cruel e ignorante de negar tudo aquilo que é milenarmente provado e aprovado pelo saber popular, tradicional, ancestral, mesmo que o ponto de partida da medicina fitoterápica seja o próprio conhecimento antigo.  

“Se considerássemos as ervas apenas como fonte de substâncias químicas valiosas, estaríamos limitando seu poder curativo, pois além do nível físico, elas podem também agir no nível da força vital. Do mesmo modo que curam o corpo, podem também curar o nosso coração e a nossa mente, pois predispõem o corpo para um fluxo livre de energia vital integradora e sinérgica”

David Hoffmann – O Guia Completo das Plantas Medicinais


O herbalismo não é só sobre ciência.

Pode sim envolvê-la profundamente e, sempre que possível, deve considerá-la. Mas vai além. E, por ser tão multi e interdisciplinar, é a consagração da perspectiva holística em relação ao uso de plantas medicinais pela humanidade.

A herbalista ou o herbalista certamente estuda fitoterapia, embora não precise ter necessariamente algum título profissional nas áreas da saúde. Mas também estuda outras ciências e outros saberes, como botânica, ecologia, agricultura e cultivo de plantas medicinais, antropologia, etnociências, culinária e nutrição, jardinagem, receitas de tias e avós, secagem e armazenamento de plantas, métodos de conservação e preparados com as plantas, métodos científicos e tradicionais, bioquímica, aromaterapia, destilação de óleos essenciais, cadeias produtivas, artesanato natural, economia doméstica, essências florais, homeopatia, higiene herbal, cosmetologia natural, fitoenergética, elevação da consciência, ervas na espiritualidade, plantas de poder e proteção, uso mágico e ritualizado de ervas.

E justamente por ser um conceito amplo e holístico, ele também encontra extensão em si mesmo. O herbalismo, dentro de uma abordagem da saúde integral, do bem viver e da manutenção da vitalidade de pessoas e comunidades, não consegue mais ser apenas sobre plantas. Pois, alcança – em algum momento da jornada – o entendimento de que as plantas para nós são um apoio curativo, e existem outros elementos fundamentais para que o suporte delas possa ser efetivo.

A medicina herbal numa visão de cura holística deve, portanto, sempre considerar a importância da(o):

– nutrição adequada e hidratação;

– sono reparador;

– sol e ar puro;

– exercícios e movimento do corpo;

– bem estar emocional e psicológico;

– respiração consciente e estados meditativos;

– manejo adequado do estresse;

– crenças e espiritualidade.


Ainda citando o médico herbalista David Hoffmann:

“O herbalismo se fundamenta numa relação – entre reino vegetal e ser humano, reino vegetal e planeta, ser humano e planeta. Fazer uso das ervas para tratar a saúde e curar-se significa participar de um ciclo ecológico. Essa participação nos oferece a oportunidade de estar conscientemente presente no mundo vivo e vital de que fazemos parte; de trazer o todo e o mundo para a nossa vida por meio do conhecimento dos remédios que usamos. As ervas podem inserir-nos um contexto maior da totalidade planetária, de modo que enquanto elas realizam sua tarefa fisiológica/médica, nós cumprimos a nossa e chegamos à compreensão dos vínculos e relações mútuas que nos unem.”


Herbalismo é a arte, a magia e a ciência de conhecer e manipular plantas, em especial plantas medicinais, aromáticas e ritualísticas. A prática de se conectar com as plantas, tão profundamente complexa e simples, ao mesmo tempo. Saber reconhecê-las. Senti-las. Estudar seus ciclos, seus ritos, seus cantos. O estudo histórico-filosófico das suas trajetórias, seus encantos e ensinamentos, através dos tempos, das localidades, dos povos que as cultivaram e cultuaram. A fitoterapia na perspectiva herbalista é a arte de curar com o suporte das plantas!


Plantas são seres superiores.

No âmago de sua existência celestial está a doação abnegada de sua alquimia solar;

De sua abundância curativa e criativa;

E toda a sua sabedoria regenerativa.

Sempre foi tempo de aprender com as plantas.

Por bastante tempo estivemos em conexão, numa relação ecológica-espiritual.

Permitindo que elas nos guiassem e fossem parte da nossa evolução e dos nossos processos de cura.

Urge o tempo de recriar as conexões.


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